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Família e amigos

O tratamento tem um impacto forte nos familiares, principalmente quem está no dia-a-dia. E cada pessoa reage de maneira diferente, o carinho e solidariedade são muito bem-vindos, mas piedade ou dó – pelo amor de Deus! São o pior dos sentimentos! Quem foi diagnosticado não quer ser visto como um coitado ou azarado, por favor! Sentimentos de tristeza perto do paciente, do tipo, “estou triste por você” também não são legais.

Esta é também uma grande experiência de autoconhecimento e de conhecimento das pessoas que o cercam, pois como disse cada um reage de maneira diferente. Não fique surpreso se alguém muito próximo não conseguir se expressar positivamente ou estar ao seu lado neste momento e alguns de longe estarem muito mais perto de você …não julgue, as pessoas não sabem lidar bem com a doença. Apenas esteja aberto para receber a enxurrada de amor e solidariedade que chegará até você! Aproveite esta experiência única.

Um dos pontos para ficar atento é que o tratamento é longo, então é legal a família se revezar, para que ninguém fique sobrecarregado. E também ter alguém que tenha todo seu histórico médico, que possa te apoiar nas decisões, mas diversificar funções ajudará a toda a família a passar por essa jornada.

Acompanhamento em consultas e exames fazem bem ao doente, mesmo que ele diga que não precisa, que é rotina…ter alguém do lado, mesmo que seja apenas para conversar amenidades é bom. E também por que muitas vezes o doente está sendo impactado por uma série de notícias que mexe muito com o emocional.

Eu me lembro como se fosse hoje, eu que sempre fui forte emocionalmente, não quis levar ninguém da minha família naquela consulta – prepotentemente achei que eu era a mais preparada naquele momento. E lá estava eu sentada na frente do meu mastologista, era uma sexta feira e ele indicou que eu começasse a fazer a quimio o mais rápido possível… (eu) – Mas o quanto mais rápido?

(masto) – Vamos tentar um encaixe para você passar ainda hoje com a oncologista.

A partir daquele momento eu fiquei zureta…juro! Deixei de absorver as informações. Ele me deu 4 papéis para fazer coisas diferentes: ir num setor para dar entrada, no outro para levar os exames e por aí… Eu perguntei 3 vezes o que era para fazer com cada um daqueles papéis e ao perceber que eu não estava mais processando a informação, o médico me deu uma babá. Chamou o estagiário e disse: Fulano, a Roberta não conhece bem o hospital, por favor leve ela para fazer isso, isso e aquilo. E lá fui eu obediente…

Se você está se perguntando: “mas por que ela estava sozinha?” Foi por que eu achei que dava conta, mas naquele dia não dei… Descobri que pode acontecer com todo mundo, eu não sou sempre SUPER! Logo começaram os meus aprendizados…

Um dos meus melhores remédios, além da família foi um quarteto de amigas: Alessandra, Maya, Mônica e Elô. Amigas de longa data que em todo o processo estiveram comigo. Quando comecei a quimio fizemos um encontro para celebrar a vida e fazer uma despedida do vinho e camarão por um período. Durante o tratamento nos encontrávamos e eu ia tomar café no restaurante da Maya na Vila Madalena, o Les Delices de Maya (recomendo!). Quando fiz minha cirurgia e descobri que tive que fazer o esvaziamento axilar fiquei super deprê, elas estavam lá no hospital no dia seguinte da operação segurando a minha onda. E quando tudo acabou fizemos uma festa no Les Delis e dançamos de alegria. Os amigos são um antídoto para todos os momentos, bons e ruins. As vezes você não precisa falar nada, apenas estar junto e isso faz um bem danado. Dei o exemplo aqui do meu esquadrão da swat, mas sem desmerecer todos os outros amigos que me acompanharam. Nossa amizade já era forte e depois disso tudo ficou ainda mais poderosa…

Eu tenho uma frase que é assim: se não puder remar, caminhe, se não puder caminhar alongue, se não puder alongar leia, se não puder ler chame um amigo e tudo ficará melhor : )

Eu sempre fui muito batalhadora, determinada…fui pioneira em algumas modalidades da canoagem aqui no Brasil. Descia rios de caiaque, me machucava toda e não dava o braço a torcer que estava doendo…queria mostrar meu lado durona para estar ente os rapazes enfrentando as corredeiras como única garota da turma. Assim foi durante toda a minha trajetória no esporte e em todas as modalidades que pratiquei e competi. Essa era a imagem que as pessoas e minha família tinham de mim, de uma mulher forte, física e emocionalmente.

E eu enfrentei a doença com coragem e muito positiva – acalmava à todos a minha volta pela minha força e fé. Estava realmente muito confiante, com o seguinte pensamento: “sou jovem, forte, tenho um excelente plano de saúde, estou me tratando em um dos melhores hospitais do país – não posso reclamar, por que é uma fase e tudo vai dar certo”

Então quando um dia minha mãe me viu chorando, falou você está em depressão?? Foi confuso para ela, apesar de saber tudo que eu estava passando, me ver assim tão frágil, sendo que até então eu é que estava dando força para toda a família e amigos. Eu disse, “Não mãe, eu não tenho depressão, eu tenho câncer…”

Posso ter sido um tanto sarcástica, mas foi o que saiu na hora…Na verdade quis dizer que momentos tristes fazem parte do processo…Você pega muitas boas ondas, está positivo e absorvendo tudo que está passando e aí vem um dia e você pega uma onda ruim…faz parte, isso não é depressão.

A oscilação emocional faz parte do processo do tratamento. Ele é longo, doloroso e desconfortável, trazendo diversas inseguranças e readaptações para a vida do paciente, então por mais que você tenha esteja confiante e positivo, é natural ter algumas quedas. Aí vale aquela regra do “uma dia de cada vez”. E saber quais as ferramentas usar para estes dias de baixa, é um bom caminho: fé, orações, amor dos filhos ou animais, meditação, um abraço caloroso, um amigo para falar bobagem, fazer mais do que mais ama…

Acho que a família deve ficar atenta (ou se preocupar) se o paciente está muito bem ou muito mal o tempo todo, sem conseguir reagir, aí sim, deve ter algo fora do eixo.

E lembrem: solidariedade sim, piedade e dó não!

 

> O que fez a diferença pra mim:

– A força e amor da minha mãe

– Meu grupo de amigas da vida: Maya, Mônica, Lelê e Elô

– Os resgates familiares

– Amigos de longe que nunca estiveram tão perto como a Lara

– Aprender a aceitar ajuda