Balanço
Quando o tratamento acaba, todos comemoram, voltam a sua rotina e agradecem por tudo ter corrido bem. Seu cabelo começa a crescer e você passa a ter pequenas grandes alegrias como usar um pente, olhar no espelho e ver suas sobrancelhas e colocar um bikini pra tomar sol depois de quase 2 anos. Lindo, né? É! Mas por outro lado, seu corpo ainda está super debilitado, tudo te cansa e as consultas médicas e exames são tão frequentes quanto antes, com a diferença que você não aguenta mais. Isto por que tudo de diferente que acontece no seu corpo tem que ser investigado ao máximo. Por que é necessário contabilizar os desequilíbrios que a quimioterapia trouxe ao seu metabolismo e também para adequar possíveis novos medicamentos que o ex-paciente tenha que tomar. Coisas que ninguém te conta…você vai descobrindo. No meu caso eu calculei pouco mais de 1 ano até tudo ir se normalizando. Mas minha família não entendia muito bem por que eu ainda tinha dias ruins após o término do tratamento. E eu não conseguia explicar que pra mim não tinha terminado, apenas mudado o formato, pois eu ainda lidava com muitas questões que impactavam a minha vida.
Por outro lado a parte boa é que seu corpo vai sim se regenerando e se adaptando aos medicamentos e novas condições. Ele passa por uma grande renovação celular. E você também vai aprendendo a lidar com este novo você…rs!
Minha dica para este período é: vai se cuidando com paciência, foca no que te faz mais feliz e rema em frente! Eu comprei uma passagem para o Tahiti sem me programar e fui remar em frente (literalmente) naquele lugar maravilhoso. Fui me regenerar! Minha família ficou preocupada pois eu mal tinha terminado o tratamento e já estava indo pra um lugar tão longe, mas depois entenderam que eu não poderia estar mais feliz.
É uma mistura de sentimentos, você se ama e explode de felicidade pela nova fase. Vive um sentimento de libertação, força e energia de viver. E também está tentando entender essa nova pessoa e corpo que surgiu pós tratamento.
No meu caso preferi ficar só com os ganhos:
– aprendi a cozinhar (não era boa nisso..rs!)
– transformei minha vida e saúde com a ayurveda
– não me estresso mais com coisas pequenas
– não aceito o que a indústria diz que é bom para comer, passar no meu corpo e usar de uma forma geral
– foco de verdade no meu propósito
– tive contato com uma vasta e incrível rede de amor e solidariedade
– já lidei com meus maiores medos da vida então não tenho mais medos
– me libertei de certos sentimentos tóxicos
– não me estresso com o trânsito de São Paulo
– aprendi a ter paciência e a lidar com o tempo de um nova forma
– pude dar uma pausa (ok, foi forçada) para repensar a vida como um todo
– sou mais solidaria e não julgo ninguém
– tive resgates familiares que não aconteceriam se não fosse por algo tão forte
– fiz novos amigos profundamente verdadeiros
– tive amizades que se aprofundaram lindamente
– descobri como sou amada, mesmo não sendo fácil…rs!
– a vida ficou ainda mais leve pra mim apesar de nem tudo ser flores
E todos os aprendizados que acumulei desde então, pois na verdade a jornada continua só que ela é mais silenciosa. E é aí que você entende (na pele) o que significa a resiliência, pois apesar das dificuldades, seguir em frente com alegria de viver é o melhor caminho. Você carrega as cicatrizes que te deixam mais forte.
Costumo dizer que “a vida é pra quem topa qualquer parada e não pra quem para em qualquer topada”
Nada do que passei ou passo me impede de ter uma vida incrível, retomar meus projetos no esporte e aproveitar de maneira mais plena meu 2° tempo. E quantas pessoas que cruzamos na vida também tem sua história de resiliência e nem sabemos, já julgamos logo de cara…
Se você leu o texto acima e achou um tanto previsível ou emocional, você vai entender por que por que costumamos dizer que apenas quem passou por um câncer, sabe qual é a real transformação de vida.
Em relação ao tratamento, depois de tudo que vivi, minha percepção é que ainda é muito protocolar, então é importante que o paciente se informe e converse com seu médico pra saber quais as possibilidades do seu tratamento e o que é negociável ou não. Quais caminhos você tem para cada uma das etapas e não apenas aceitar tudo que lhe dizem para fazer ou tomar por que trata-se de um câncer, pois estas decisões irão impactar sua vida para sempre. Os avanços na medicina moderna são rápidos e a toda hora aparece um novo medicamento ou um novo protocolo. Então acho importante nesta jornada encontrar profissionais que possam trazer visões diferentes para que você entenda as opções que tem e possa tomar a melhor decisão para você e não para uma estatística.
Não podemos esquecer também de acessar todos os benefícios que os pacientes com câncer tem, como insenções de imposto na compra de carro, resgate do FGTS, liberação de rodízio entre outros. É um direito que não pode ficar para trás.
E seguir em frente, escrevendo sua história, aprendendo com as dificuldades e aproveitando o que a vida tem de melhor!
Dois anos após receber meu diagnóstico, fiz a tão sonhada viagem para Indonésia que tive que adiar na época. Surfei altas ondas e fiz tudo que eu queria. Que isto sirva de exemplo para mulheres que assim como eu fizeram o esvaziamento axilar. Acho importante que todas saibam que sim, é possível ter uma vida ativa e fazer atividades que envolvam toda a parte superior corporal. Retomei meus projetos no esporte e em novembro deste ano (2018) parto para mais uma aventura no Sri Lanka que pode ser acompanhada no site: www.suptravessias.com.br
E sigo remando em frente com muito mais alegria de viver!
Impossível não deixar meus agradecimentos especiais para:
Minha mãe e minha família
Vânia, minha terapeuta
Maya, Lelê, Elô e Mônica
Telma
Lara
Equipe do AC Camargo
Fábio – enfermeiro
Equipe da Fisio Action
Celeida
Todo time UOL
Fernanda Zambele – fisioterapeuta
E a todos que me acompanharam nesta parada!