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Antídoto

A Luli..ahhhh a Luli…impossível não dedicar um capítulo só pra ela.

Poderia ficar horas escrevendo aqui como ela entrou na minha vida…foi uma reviravolta. Ter um cachorro para a maioria das pessoas é algo tranquilo, normal, mas na minha vida claro tinha que ser diferente. Ela me adotou na praia…isso mesmo! Apesar de AMAR cachorros meu estilo de vida não cabia um: muitas viagens, muito trabalho, treinos todos os dias pela manhã, morando em apartamento e ainda com a minha mãe que não queria cachorro.

Ela apareceu na minha casa de praia depois que o caseiro abriu o portão para uma cachorrinha que não parava de chorar pedindo para entrar. Ela foi até em casa e comecei a brincar com ela achando que era a nova cachorrinha do Ronaldo, o caseiro. Que nada! Bom, ela não saiu mais perto de mim. Como não tinha comida em casa naquela manhã fomos até a padaria e eu paguei um belo sanduba pra ela…rs! Ficamos juntas no final de semana e quando fui embora combinei com o caseiro dele cuidar dela durante a semana até eu voltar e decidirmos o que iríamos fazer… Enquanto isso estávamos procurando os possíveis donos dela. Bom, ela passou a semana inteira na porta da minha casa…até eu voltar e falar: Ok, você venceu, vamos assumir esta relação!

O primeiro ano deu tudo certo pq ela ficava na praia com o caseiro – meu guardião o Ronaldo que adora bichos e fazia com que ela tivesse uma vida perfeita: praia todos os dias, muito espaço para brincar na natureza, afeto e comida. Nos finais de semana era um chamego só comigo, nós duas juntas o dia inteiro para todos os lados, praia restaurantes, caso dos amigos, supermercado…só nos separávamos qdo eu ia surfar.

Até o dia que o Ronaldo deixou de morar no condomínio e um domingo eu cheguei em casa com uma cachorrinha vira-lata caiçara e disse “Mãe, temos que conversar!”

A partir daí minha vida virou um caos…faltei no trabalho, tive que arrumar uma creche para deixar a Luli tooodos os dias da semana…gastava um tempo enorme entre indas e vindas pois tinha que levá-la e buscá-la todos os dias e por aí a fora. Sem contar que ela ficou muito stressada, sem entender o que estava acontecendo, fora da rotina dela, com medo de andar na rua em São Paulo, pois moro em uma área comercial movimentada. Minha mãe stressada, mau-humorada…eu com raiva querendo sair de lá e pensando em alugar um ap. Gastei uma grana aquele ano só com as mensalidades da creche…uma grana que não tinha…mas nunca passou pela minha cabeça me separar da Luli, nosso amor era muito forte.

Derrepente ter um cachorro virou algo enorme na minha vida, em termos de logística, tempo dedicado e financeiramente. Mas tudo valia a pena.. os finais de semana que passávamos na praia era sempre maravilhosos…nos energizávamos para voltar a rotina enlouquecida de São Paulo. A Luli, coitada, ficava um tempão no trânsito comigo todos os dias, mas também não posso deixar de dizer que ela foi muito bem acolhida na Dog Vila Lobos, que durante um tempo também foi a casa dela onde ela passava os dias da semana até eu ir buscá-la depois de sair do trabalho.

Foram quase 2 anos nesta vida, com o tempo as coisas fora melhorando, ela foi conquistando a minha mãe e consegui passar de 5 dias na creche para 4, então as segundas ela ficava em casa. Qdo tudo estava ficando bem o caos novamente. A Luli sofreu um atropelamento na Barra do Sahy numa terça feira de carnaval. Não vou entrar em detalhes porque foi punk e traumático para mim. A roda passou em cima da cabeça dela, ela teve traumatismo craniano e lesões na cervical que foi no único lugar que não fez ela perder o movimentos. A partir daí começou uma luta. Primeiro para salvar a vida dela e depois para deixar ela bem com o mínimo de sequelas, pois as lesões dela eram neurológicas.

Sofri demais, deixei de durmir por conta de todas os remédios que ela tomava qdo ela voltou para casa, tirei férias para poder acompanhá-la no tratamento por que ela não estava andando. Eu tinha que levar ela no colo 2x ao dia para fazer xixi no lugar que ela estava acostumada, por que ela não queria fazer em casa.

Caos emocional, físico, financeiro…gastei os tubos e busquei todos os recursos que tinha com neurologista, acumpultura, fisioterapia e principalmente, MUITO AMOR!!

E sim, a caiçarinha guerreira sobreviveu, se reergueu e milagrasamente ficou sem sequelas.

Tivemos um mês de muitas alegrias praia e curtição até receber mais uma paulada, meu diagnóstico de câncer.

Desde que recebi meu diagnóstico, mesmo sendo difícil em nenhum dia nesta primeira fase eu chorei. Meu primeiro choro foi uns 2 meses depois quando fui começar a quimio e meu irmão veio com uma história que a Luli não poderia ficar em casa, que ela tinha que ir pra outro lugar porque ele pesquisou, ouviu a história de não sei quem e por aí a fora. É sempre assim, muitas histórias, pesquisando na web, muito cuidado com essas informações que chegam de todos os lados…

Eu fiquei muito triste, não queria minha cachorra longe de mim e ela tinha acabado de passar por um processo super difícil para ter qualquer tipo de separação. Bom depois de muita conversa com a minha médica entendemos que NÃO É NECESSÁRIO AFASTAR SEU CACHORRO E SIM TOMAR ALGUMAS PROVIDÊNCIAS E CUIDADOS. Tudo depende do perfil do cachorro, porte, se ele fica muito na rua, tem contato com outros animais e tudo mais.

Abaixo alguns cuidados que tomamos durante o período da quimio onde minha imunidade poderia ficar mais baixa e eu mais suscetível a infecções:

>>  moro em apartamento então colocamos uma gradinha no meu quarto e ela não entrava mais lá (antes ela durmia comigo na cama)

>>  eu não tinha qualquer contato próximo com fezes ou urina dela. Por exemplo, trocar o tapetinho ou pegar cocô com saquinho

>>  evitava situações em que ela pudesse me arranhar durante brincadeira

>>  não tinha qualquer tipo de contato com a saliva dela…(sem lambidas)

>> retiramos ela da creche durante todo o meu tratamento de quimio

>> sempre passava álcool gel na mão depois e ter contato com ela

E ela lindamente entendeu tudo que ocorria, aos poucos ela mesmo ficava perto, queria estar junto o tmpo tempo mas sabia perfeitamente até onde podia ir. E durante todas as noites dos 6 meses de quimioterapia ele ficou sem durmuir pois me vigiava indo no mínimo umas 6x por noite na porta do meu quarto tomando conta do meu sono, assim como eu fiz com ela no período da recuperação dela.

Foi tanto amor que esta cachorra me deu que durante um período ela foi meu antídoto, claro, assim como outros alicerces que tive nesta jornada com a minha família, amigos e pessoas super queridas e especiais.

Fizemos longas caminhadas no parque do Ibirapuera durante todo o tratamento e isto me manteve sempre ativa, pois intercalava com um pouco de bike e algumas remadas. Mesmo no final da quimio quando você fica mais debilitado pude manter a rotina com ela e isso me fez muito bem fisicamente. Foi o período onde minha imunidade ficou mais alta, verificado pelos exames semanais.

Quando eu voltava da quimio, lá estava ela feliz da vida e animada com meu retorno e eu ficava distraída brincando de bolinha com ela, esquecia aquelas horas chatas entubada e sendo envenenada.

Quando todos estavam ocupados com seus trabalhos ou compromissos, afinal a vida continua, lá estava ela me olhando e dizendo com os olhos “e agora , o que nós vamos fazer?” Era demais!!!

Quando eu ficava triste por algum motivo ela simplesmente vinha e deitava ao meu lado, como se dissesse: #tamojunto Quando eu estava feliz por algum motivo ela pulava alucinada sabendo que ali havia uma comemoração.

E assim ela se manteve como um super antídoto, me fez um bem enorme física e emocionalmente.  Então, se você está passando por algo similar e tem um cachorro, converse com seu médico e pense o quanto ele pode te fazer bem durante este período. Ela sabe tudo que está acontecendo com você, provavelmente antes mesmo de você e será um grande companheiro.

Hoje estamos super bem, curtindo muita praia, parques, dormindo juntinhas e curtindo tudo que a vida nos oferece. Ela é o xodó da casa e da minha mãe, super disputada e recebe muito carinho de nós duas, é a caiçarinha mais mimada que eu conheço!

Luli, eu te amo, obrigado por me acompanhar na jornada da vida!